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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ai-bota-aqui-o-seu-pezinho.

EPITÁFIO

Nunca lhe faltou 
aquela mão amiga.



Fim de semana na serra é diversão para toda a família. As crianças, carregadas de chocolate, brincam, brincam, brincam, brincam. Os adolescentes, graças ao wireless nas pousadas, não se alteram. Os adultos caem nas piscinas de ofertas. Liquidação de verão no outono gaúcho é pura simpatia.

As lojas montesinas guardam charme: uma elegante loja principal plus um outlet. Marca que se preza tem balaio gigante com preços de fábrica a uma quadra de distância do showroom. E a turistada ama um balaião. Todo mundo se engalfinhando para ter certeza de que está comprando pelo menor preço. Chegar ao caixa é a vitória dos mais fortes.

A qualidade é indiscutível: do artesanato à tapeçaria, dos couros, que são chamados “pele”, à moda para motociclistas passando por lãs e linhas firmes, bem costuradas, bem cortadas.

Sendo assim, preço e produto estão ok. O atendimento é que está em jogo. Parece que estão te fazendo um favor. A gente entra na loja e fica lá jogado às traças, num estilo “compra aí e não incomoda” ou “não quer levar, não tô nem aí”.

Contra esse tipo de comportamento, o Bitols tem estratégias especiais. A bem da verdade, Bitols adora mexer com garçonete, gerente ou revendedora Avon. Estou ciente.

Fim de semana em Nova Petrópolis, por exemplo. Fomos pegar uma chuva no topo das montanhas - porque chuva nas montanhas faz sentido. Entre as coisas de fazer na serra estão as compras, como eu vinha dizendo. Na primeira ponta-de-estoque, Bitols já saiu interpretando o olhar blasé da balconista:

- Que houve? Tá triste?
- Não...

- Está sim. Por que essa cara triste? Problemas de amor?

- Não...

- Se não é amor, então é dinheiro. Pode chorar, vai: chooora... - completa avançando e emprestando o ombro pra moça.

- É que deu tudo errado hoje! O celular estragou, meu carro não veio do conserto, meu computador pifou...

O conversê rendeu mais desconto ainda. Saímos do container-loja com dezenove peças de roupa.

Por isso mesmo é que não critico a alegria, o jeito de “sou amigo”: descola muita risada e ainda gera dividendos.

Já que a população de comerciantes serranos é mais mal-humorada que bartender de aeroporto, o morro virou prato cheio de piadinhas e mequetrefes mil. A cada estabelecimento, Bitols foi-se empolgando. No fim da tarde, chegamos aos esperados calçados:

- Ah, mas esses sapatos são feios.

- Depende do gosto! – respondeu a alemoazinha chinfrim.

- Não chooora: são feios! Só gosta quem tem mau gosto. – foi afirmando o lambisgóio-mor enquanto pegava a mãozinha germânica, branquela e fria.

Ficou lá de mãos dadas com a vendedora. E eu lá de pata choca.

Vez em quando dá beijinho em demonstradora, abraça e fica se balançando com as atendentes. Tudo bem. Mas mãos dadas? A suprema intimidade de um casal? Não aguento.
Fala sério. Comigo não tem desconto.

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