Bugio Branco |
Eu tinha 15 anos quando namorei pela primeira vez. Meu namorado tinha o apelido em casa de bugio branco: ou seja, não era exatamente bonito. Namorado bonito nunca foi meu forte. Aliás, tirando o marido, meus antecedentes criminais são graves. O fato de ser feio não importava, a questão é que era um rapaz inseguro e ciumento. Talvez isso ficasse por conta da síndrome de desarmonia facial, mas talvez fosse outra coisa. Vai saber? Não mamou no peito, demorou para tirar as fraldas, sei lá. Mas as tentativas de controle do dito cujo eram bastantes e, na adolescência, tudo pega fogo.
Costumam acusar os hormônios, mas hormônio é coisa boa demais para ser o dono dessa culpa. Quando faltam é um deus nos acuda. Penso que tem mais a ver com nossa imensa vontade de conhecer intensamente, uma voracidade simpática, um imenso tesão pela vida e pelas oportunidades românticas. Não gosto de quem xinga um adulto de estar sendo adolescente — o adulto que mantém a eletricidade ligada é um sábio. Mas entre eu e o moço aquele de quem estou falando, acontecia de virar curto circuito com a maior facilidade. Então a gente brigava muito. Discutíamos horas por telefone, horas ao vivo; das festas, quase sempre íamos embora brigar em casa. Os motivos? Ah, os de sempre. Você olhou para fulano, você abraçou demais sicrana, etc. Ciúme é um problema sem fim porque não é um problema. Ficamos frágeis e acabamos querendo rugir para negar a vulnerabilidade.
Minha mãe insistia: minha filha, namoro é para ser bom: é a melhor fase da vida. Se estão brigando tanto, talvez seja razão para se separarem.
Foi então que me deparei com um clássico questionamento: quando é hora de insistir e quando é hora de acabar? O namoro acabou quando acabou, tudo tem fim. Temos esta necessidade de achar que o importante é não perder tempo com a pessoa errada. Isso é um infeliz delírio: o tempo não vai embora, jamais está perdido. Toda experiência vale. Mais: pessoa errada? Lá isto existe? Amar não é investir, é gastar — quanto mais gastamos, mais ganhamos. E, por último: decidir? Quem pergunta ainda quer ficar, mas tem vergonha do que deseja. Aprendi logo que é assim mesmo, criar uma relação é construir.
Minha mãe estava enganada: primeiro, adolescência jamais será o melhor período da vida e namorar é sempre um perrengue, ora bolas. É difícil mesmo conciliar vontades, paixão e aprender a gostar sem que isso seja uma ameaça.
Quando nos apaixonamos, nossa personalidade entra em xeque. Só evolui no relacionamento quem muda, quem abandona princípios, quem tem coragem. Isso leva tempo. E, muitas vezes, mil relacionamentos ou mil relacionamentos dentro do mesmo casal.
Existe um tabu enorme sobre casais que procuram um terapeuta. Parecem perdedores aos olhos de alguns. Dizem: "Mas se não conseguem resolver os problemas em casa, vão morar com quem atende? Melhor separar e procurar quem seja mais compatível".
Isso é uma lenda tão esdrúxula quanto dizer que quem come melancia com leite, desmaia. Um mediador pode fazer toda a diferença na busca do entendimento. Se as pessoas se gostam, por que não tentar descobrir o que está acontecendo?
Só o desamor não tem cura. Aprender a gostar é um direito. Esse tipo de tecnologia é coisa nova, por isso, amedronta. Mas a verdade é que os casamentos modernos exigem muito mais do que antigamente. Não é simplesmente uma sociedade, nem mesmo um brasão familiar. Viver junto é um desafio. Viver junto e bem é aprendizagem. É fazer beleza quando ninguém enxerga.
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