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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ossos do Ofício [Crônica Falada - 02.06.2010]


Fratura do Colo do Fêmur

Bati meu joelho no painel ao descer do carro. Doeu tanto que ligou minha memória. Há quanto tempo não me machucava?

Quando criança, era até famosa pelas feridas e ranhuras nas pernas. Agora, nem consigo lembrar qual foi a última casquinha que assisti crescer na pele.

Conforme o tempo passa, cada vez menos nos ferimos. Seja porque melhora a coordenação motora, seja porque nos arriscamos menos. Canso de testemunhar amigos que abandonam o futebol, o tênis, o montanhismo em nome das mãos que sustentam a casa. E porque o seguro de vida fica mais barato.

Um jovem, quando se cuida bem é elogiado pela vitalidade. Um velho, quando zeloso, é visto como dependente e quase senil. Um jovem é vistoso usando proteção solar e cuidando de beber muito líquido no verão; na mesma estação, os postos de saúde transbordam de idosos desidratados passando a tarde com soro pingando nas veias. Quanta experiência de vida é necessária para compreender que a sede diminui com a distância da data de nascimento?

A fragilidade sempre é um aviso. Um sábio recado.

Nunca deixamos de ser responsáveis por nosso corpo e conforme a idade avança, precisamos lidar com as limitações que aumentam.

Perdi a conta do número de fraturas de colo de fêmur que atendi na época da faculdade. 90% delas aconteceram em senhoras que subiram em banquinhos ou mesas para trocar lâmpadas ou tropeçaram no chão encerado.

Porque é tão simples tapar as tomadas quando temos bebês e tão difícil usar um tapete antiderrapante?

A charada é lidar com a onipotência. A onipotência não tem idade, nosso corpo tem.

Confira a Crônica Falada de @cinthyaverri exibida no Programa Camarote TVCOM.
Apresentação (@katiasuman).



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