....

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Porque até o Polanski encarou o presídio (mas fez um Escritor Fantasma).

EPITÁFIO
Matou o namorado
e foi ao cinema.



Toda última segunda-feira do mês, fazemos o Cineterapia. Fico sempre nervosa. É uma delícia, mas eu experimento o pânico das mãos molhadas e da boca seca.

O Bitols sempre ajuda. Faz a assessoria de imprensa, põe no twitter dele e ainda se presta a ser bilheteiro.

A cada um, ele sorri, faz uma piada do momento e se despede solene:

-Boa noite, boa sessão.

É divertido, logo, alivia a tensão. Correção: aliviava.

No último Cineterapia, eu, ansiosa como de costume. O Bitols, brincando como de costume.

Cheguei a ver de relance: uma morena no celular. Sim, chamou a atenção porque ficou de lado todo o tempo em que estivemos ali entregando os folders e as entradas como se esperasse alguém. E botava o celular na orelha. E bufava. E abria de novo o telefone. E bufava.

Fui revisar as poltronas para o debate dentro da sala. Quase todos já tinham tomado seus lugares. Ia no caminho de volta para o saguão, quando meu irmão me interpelou:

- Ele não fez nada que eu vi.

Parecia anúncio de desgraça: um tom algo sóbrio, o olhar certeiro, conheço meu mano. Pisei no tablado e dei de cara com a Bruaca de quatro patas em cima do Bitols. Celular na mão abaixada, encostadinha no caixote da bilheteria. Bitols de cenho franzido, encolhido, constrangido.
Ela tinha atacado, a Espertinha da Estrela.

Eu fui até lá, fiz a volta, pus a mão na nuca dele e ela, nada. Fez de conta que não me viu e continuou: que ia ao lançamento no Rio, que era su-ú-per-amiga da Ana (sim, a “Ana” é Ana Carolina, A Cantora) e que iari-iari-iari-iari. E eu parada feito um dois de paus.

Ui, que ódio!

Tive que sair dali e ir fazer a abertura no microfone. Tremendo de braba. Não posso negar que o nervosismo sumiu. Terminei a abertura e voltei.

Ela ainda estava lá! Cê acredita? Continuava miando que isso e aquilo.

- E aí? Vamos?

Me dirigi ao bilheteiro dos infernos.

- Vamos!

Ele respondeu saltando e recolhendo as coisas, igual criança saindo do castigo. E a Bruaca falou:

- Ai, acho que minha irmã não vem mesmo!

Ahan, irmã. Ainda largou essa. Cê acredita?

Entramos todos.

Depois do debate, eu me encaminhei tranquila para um jantar redentor.

Na calçada, adivinhe?

Cê acredita?

A Bruaca esperava na saída e ainda foi iari-iari-iari até o estacionamento, o carro dela veio antes e era três, não, cinco vezes o meu. E com bancos de couro. Vou te dizer: o terror.
Mais magra que eu, muuuuito mais rica que eu e amiga da Ana Carolina?

Ui, que ódio!

Fiquei em dúvida entre demitir e matar, mas achei que matar dava mais bilheteria.

PS: tá se perguntando o que o Bitols fez pra merecer um tiro? Vai ler o Canalha!; depois volta aqui e diz se não me dá razão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário