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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Saiba que todo mundo faz cocô.



Beatriz Martin Vidal's Geese: http://beatriz.carbonmade.com/


Papa, Madonna, Hitler, Churchill, Jesus Cristo e Chico Xavier.
Todos fazem cocô. E ninguém pensa que eles fazem.

É o óbvio. E, mesmo assim, tentamos disfarçar. Tem gente que queria não fazer. 90% das pessoas que sofrem de prisão de ventre são mulheres. Como duvidar que essa enfermidade é cultural?

Quase todos os casos de câncer de intestino têm relação com a prática de trancar. O corpo é quem decide quando está na hora. Julgamos que o momento é inadequado, queríamos a discrição doméstica.

Sou leve por ter tido um pai que tratava o momento com alegria, recolhia o jornal e se dirigia ao banheiro assoviando; sou prevenida por uma mãe que penou o bullying dos irmãos e acabou sofrendo cirurgias decorrentes do mau hábito. Os dois estimulavam a naturalidade ao evacuar.

Descobri o termo polido “ir aos pés” só na faculdade de medicina. A primeira vez que ouvi, pensei que não “ir aos pés” era dificuldade de alongamento. Na minha casa todo mundo fazia cocô e pronto. Não era “cagar” com força pejorativa e boca aberta, não se “cagava” como o termo empurra, quase um palavrão. Não era "número um" e "número dois", como um disfarce algorítimico de ato necessário.

Basta ver o quanto a porta está fechada na linguagem. Há tudo que é tipo de expressão para fugir da simplicidade: “passar um fax”, “soltar um borrão”, “esvaziar o pote”, “pintar a porcelana”, “obrar”, “ver o marronzinho escorregar”, “soltar o João”, “cortar o rabo do macaco”, “colocar o trem para andar”.

Isso já é educar o corpo a não fazer. Tenho dó daqueles que ficam mais de sete dias sem escoar o intestino. Encontro nisso uma dose de loucura.

Constipação tem um quê de delírio de grandeza: a vergonha é só disfarce para querer estar ali no patamar dos destronados de vaso sanitário.

Ovídio ensina na Arte de Amar que um jeito de esquecer a paixão é pensar em seus defeitos, inclusive, imaginar o ser amado defecando.

Ovídio não entendia nada.

Prova é mãe e pai na escatologia amorosa com seus bebês, diálogos intermináveis sobre o aspecto, a forma, a cor e o cheiro das fezes.

Melhor cara-de-pau que prisão de ventre.


(Esta crônica foi falada no TalkRadio, mas o audio não ficou disponível no site da Itapema FM: será que não se pode falar disso na rádio?? XD)

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