....

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Borbulhas de Amor

EPITÁFIO
Há outras formas
de aquecer um corpo.


- Vamos passar a noite no motel?

Achei legal a ideia, afinal, divido o apartamento com meu irmão. Seria, sem dúvida, mais romântico.

Eu não sei nada sobre motéis. Devo ter freqüentado, no máximo, uns dois. Na vida. Juro. É puro fruto do acaso porque acabei namorando gente que vivia sozinha. Então, não tive o tour iniciático, não herdei problemas com sogros, não girei pela cidade.

Quando ele sugeriu o motel, achei bem diferente. Meio cedo para já querer “diferente”, mas ok. Segurei o pensamento inseguro e fiz o mantra de “é pelo romance”.

Chegamos no motel muito rápido. Estranho para quem sempre pergunta as rotas, os melhores trajetos. Na portaria, nem leu a tabuleta, saiu pedindo suíte 23 ou 33 não-sei-o-quê.

Eu olhava tudo disfarçando a cara de tonta. Não estou acostumada a não saber certas coisas, ainda mais aos trinta anos. Como ia contar que não conhecia nada de nada daquilo?

Para minha surpresa, chegava a me sentir encabulada de estar num motel, tamanha a lacuna que encontrei: vergonha de estar em motel eu devia ter sentido aos quinze anos, não agora.

Havia quartos com e sem Academia do Prazer, a voz anunciou. Na hora repeti rindo baixo, mas ele ouviu.

- A Academia do Prazer daqui é mixa, precisa ver os equipamentos dos motéis da Scharlau.

Acrescentou uma piadinha sobre um tal “JM” que sai nos cartões de crédito da região metropolitana

- Como se isso guardasse segredo, mas TODOS sabem que “JM” são as iniciais do dono dos motéis da região.

Todos sabem? Ia me segurando no assento do carro, rezando pelo botão ejetor. Mas o pesadelo só começava. Lembrei da amiga da adolescência que tinha cartão Vip do Vison Motel e ganhava descontos e pernoites com seu namorado. E eu lá, mentindo que já conhecia e não achava grande coisa.

Falou da batata frita do motel botafogo, da decoração brega no porto dos casais, da decadência do medieval, do bom e honesto A2.

- Hum, sei. É mesmo? Puxa. Quem diria?

Começou a encher a banheira e disse:

- Mas é para depois, tu sabe, né? Depois da hidro não dá para fazer nada.

- É, realmente.

*Gracias, Bob,
pela sugestão
de morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário