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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quer uma mãozinha?

EPITÁFIO
Pela última vez, pintou as unhas
de vermelho escarlate.


Meu irmão deixou avisado desde a pré-adolescência que tudo o que um cara espera como sinal de resposta positiva na hora da cantada é o sorriso. Quando a mulher ri, a guarda foi posta de lado.

Por isso, para mim é difícil lidar com a espontaneidade do Fabrício: naturalmente alegre, comunicativo e sedutor. Poucos resistem às brincadeiras, aos gracejos, ao espírito alto e inteligente que ele tem.

Estávamos no Rio, na sorveteria Itália. Calorzinho de cinqüenta graus, a loja estava lotada. Íamos enfileirados, estilo repartição pública. Eu, à direita dele, olhava os sabores na vitrine. Fui lendo as plaquetas, distraída, coco, iogurte natural, doce de leite, passas ao rum, chocolate e menta quando, de repente, explode um hihihi-hahaha do meu lado.

A mocinha morena veio pela esquerda e cutucava o Fabrício para espiar os sabores no freezer. Ele gostou da provocação e pôs as mãos em frente ao vidro para bloquear a visão dela. A engraçadinha, que devia ter comido Palhacitos no café da manhã, ria da piada da semana – que eu pensei que fosse eu.


Morre novamente, dessa vez, perdendo as mãozinhas em duas versões: 
uma sem cenário e outra com a favela fazendo fundo.


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