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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cada história é outra história. [Crônica Falada no Camarote TVCOM - 09.06.2010]

Conversava com uma amiga que reinaugurou o nome de solteira. Ela desabafou:

- Vai ver que esse casamento veio pra me ensinar o que eu não quero de uma relação.

Achei graça. Bem que a gente deseja uma sabedoria preventiva, mas relacionamento não é aula particular. Não é ENEM, não há como aproveitar o histórico escolar. Não existe linha reta, conhecimento acumulado, não partimos em degraus, da 1ª à 4ª série. Pensar que temos condições de evitar enfrentamentos e brigas dobra as possibilidades de separação.

Ao antecipar frustrações de relacionamentos anteriores, apenas criamos uma fórmula e intensificamos a fiscalização. Já entramos armados de pedras e lições dizendo o que o outro deve ou não fazer. Ficamos insatisfeitos antes mesmo de começar. A ânsia em recuperar o tempo nos condicionar a arriscar menos. No lugar da coragem, desenvolvemos fobias e paranóias.
Cobramos resultados iguais à meta de vendas. Acreditamos que, através da prática, podemos antecipar os problemas. Isso funciona no comércio e olhe lá.

Ainda que o par seja conhecido, a convivência não se repete. Não existe jeito de cometer os mesmos erros, já que nunca somos os mesmos.

O amor nada tem que ver com nosso gosto pessoal. É assim que uma patricinha namora um hardcore e um sannyasin de Osho casa com uma militante de esquerda.

A emoção não se refina, não evolui, não amadurece. Voltaremos ao início, desmemoriados. Regressamos ao estado embrionário de fragilidade, insegurança, sensibilidade. E com o volume ao máximo.

Ah, como queríamos não sofrer! Supomos que é um desperdício sofrer por uma coisa que era previsível. Gostar e querer alguém não corresponde a um jogo de adivinhação. O precioso não está no amor em si, no que desfrutamos como casal, mas no que ele empresta: as lembranças ganham sentido, o caos importa menos, os problemas não nos atingem, somos menos arrogantes, mais descompromissados. O amor rouba o controle e devolve o desequilíbrio da infância.

Quer saber como vai ser? Experimenta. E não repete a receita.

Confira esta Crônica Falada, no Camarote TVCOM.
Apresentação @katiasuman




5 comentários:

  1. Olá!!! Primeira vez que faço um comentário num blog, mas assisti e achei impressionante como é isso que acontece mesmo. Como esta tua amiga(o)fiz as mesmas indagações ao meu eu próprio e prometi não fazer os mesmo erros, e depois parei para analisar que eu já cometi eles em relacionamentos anteriores...(tove que rir). É surpreendente como isso é real e tentamos nos enganar... Adorei... Parabéns

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  2. Uau! Direto. Franco. Claro. Delicado.
    Gostei muito.

    Visite meu blog, se quiser:
    www.espacointertextual.blogspot.com

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  3. Oi Anônimo,
    escreva, é ótimo saber o que pensa quem vê e lê.
    :) Abração

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  4. Marcio,
    que bem que chegou em cheio.
    Abração

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