....

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Por que as freiras não morrem? [Crônica Falada 14.07.2010]

Para Cassiano de Oliveira Stahl
e sua abrassagem &
Fabrício Bitolinos Carpinejar,
que não desiste de rir
de mim e comigo.













Cérebro com Alzheimer......................................| |.............................. Cérebro Saudável Centenário

POR QUE AS FREIRAS NÃO MORREM?



Cumpri o primeiro grau sob a guarda das freiras. Peculiar a vida delas no colégio Notre Dame de Passo Fundo. Peculiar é um refinamento para pacato.

Os dormitórios eram simples, adequados ao voto de pobreza; as roupas branco-e-pretas, os refeitórios com mesas retangulares, os fogões industriais, as louças, os talheres – tudo em grande quantidade e tudo igual. Algumas tinham o luxo dos radinhos de pilha na cabeceira. Não desligavam nem na Hora do Brasil.

As irmãs compartilhavam o dia-a-dia: acordar às 5h, rezar, tomar café-da-manhã, abrir as portas aos alunos, aturar o inferno com um sorrisinho celestial:

- Vinde a mim as criancinhas.

O almoço, o lanche, a ceia. Diário cronometrado, rotina precisa e repetitiva como um cuco. O que uma fazia, a outra imitava. Assim é que mantinham a sensação de família bizarra. Clonagem mais do que consanguinidade.

Quando Irmã Odila começou a ler Nora Roberts, ressoaram feito ciborgues com a mesma programação. A biblioteca da escola herdou fartas quantias dos romances açucarados e enfadonhos.

Quando Irmã Renira quis cantar, abraçaram-se em coro para a páscoa, o natal, corpus christi, o escambau.

Quando Irmã Ofélia pegou gosto pelas palavras-cruzadas, virou febre tifóide: entraram em delírio fanático. A Coquetel virou patrocinadora da missa. Colocavam as brochuras marcando o livro sagrado e perdiam as contas entre os capítulos e os versículos. Gênesis 1:12? E elas saiam contando nos dedos:

- o-r-i-g-e-m-d-a-v-i-d-a. Doze letras.

Tanto que acredito que o Código da Vinci é o casamento entre a bíblia e a palavra-cruzada.

Apesar de previsíveis, as irmãs tinham mistérios embaixo dos hábitos. Ingressavam na congregação com menos de vinte anos, quase unânimes na origem ítalo-germânica, vinham do interior do estado, de famílias de poucos recursos. Mas elas nunca morriam, nem adoeciam. Jamais testemunhei enterro de freira. Daí minha desconfiança de que fossem vampiras.


POR QUE AS FEIRAS NÃO FICAM LOUCAS?

Não era vampirismo.

É o que descobriu o epidemiologista Snowdon de Minnesota. O médico, que também formou-se em escola católica, viu que ali existia um grupo excelente para observação e pesquisa. Nasceu o Estudo das Freiras, um dos marcos na análise científica mundial. Poderia ter sido em meu colégio em Passo Fundo (RS), mas foi em outro de igual nome, em Mankato, Estados Unidos

Snowdon e seus pesquisadores avaliaram 678 congregadas de Notre Dame. Desde 1985 são observadas, têm seus genes analisados, anualmente medidas, testadas cognitivamente, catalogadas e, quando morrem, doam seus cérebros para exame necrótico. Isso para agregar e cruzar dados em relação à velhice e à incidência de doenças degenerativas.

É de lá que algumas conclusões causam furor, por exemplo, por terem notado que aquelas praticantes de palavras-cruzadas tinham 30% menos Alzheimer. Essa promessa bombástica fez com que muitos assumissem ao pé-da-letra, abandonassem dietas em troca do ritual de preencher quadradinhos em busca de vocábulos e sinônimos.

Muito mais aprendemos com seus comportamentos uniformes que o gosto pelas cruzadinhas:

- a irmã mais saudável e mais idosa caminhava 7 milhas todos os dias;

- as irmãs mais bem-humoradas e com experiências mais positivas em relação ao passado tendem à longevidade com saúde;

- aquelas que, quando jovens, escrevem seus votos com maior “densidade de ideias” tendem à envelhecer sem demência;

- aquelas que sabem mais idiomas e que continuam estudando e aprendendo tendem à menos eventos degenerativos.

David Snowdon, em palestra, professa que, se tivesse que escolher entre caminhar e fazer o puzzle do jornal, escolheria colocar o pé na estrada.

(Já que a gente não precisa escolher entre um e outro, sugiro que se completem as charadas em cima da esteira.)

Assista esta crônica falada>>
crônica de @cinthyaverri exibida no @CamaroteTVCOM
dia 14.07.2010. Apresentação: @katiasuman.

2 comentários:

  1. Boa sugestão, mas esteira não é para mim. Corrida serve?
    Jefhcardoso do
    http://jefhcardoso.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Jefhcardoso,
    corrida é excelente pedida - cuide da saúde dos tênis.
    ;)
    Beijo

    ResponderExcluir