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domingo, 1 de julho de 2012

[Quase Perfeito] NEM TODOS SÃO IGUAIS

Arte de Cínthya Verri


“Ele era querido, educado, estávamos há três semanas. No Dia dos Namorados, não apareceu. Me senti uma barata nojenta esmagada. Mandei um SMS: ‘Aconteceu alguma coisa?’. Ele ironicamente perguntou se eu queria discutir por SMS. Pensei: ‘Isso é uma ameaça?’. E acabei com ele. A poeira baixou, liguei e perguntei: ‘Acabou?’. Ele: ‘Sim’. Fiquei arrasada. Preciso MUITO de vocês.
Beijo, Marlene”


Querida Marlene,

Nem todos os homens são iguais, alguns são piores do que os outros. Analise comigo, você sequer concedeu o direito de resposta a ele no momento do desentendimento. Já se consagrou injustiçada, vítima do descaso.

Não cobrou uma posição porque ele não apareceu, condenou a atitude por torpedo. O namoro ainda não havia completado um mês. Não se conheciam de todo e dependiam de maior paciência para ajustar a convivência e harmonizar as personalidades.

Ele tinha razão: não era caso de discutir por SMS. Talvez precisasse de tempo para argumentar e detalhar os impedimentos. Afinal, os olhos são uma boca mais honesta. Mas não admitiu desculpa, descartou sumariamente, como se fosse uma mentira. Perante a pressão desmedida, é evidente que ele se fechou, achando que era excessivamente ansiosa e temperamental. A poeira não vai baixar, pois jogou toda terra nos olhos dele.

Dia dos Namorados não é o mesmo que abandoná-la no altar, porém a sensação é que entendeu assim. Não faz sentido dizer que foi uma barata nojenta. Seu drama excessivo eliminou o discernimento. Será que não despejou nele as frustrações de antigos namoros?

Somos superficiais para terminar. Qualquer fofoca ou suspeita, e transbordamos de arrogância. O fofoqueiro é o cupido do divórcio e se aproveita de nossa paranoia amorosa. Crescemos com a certeza de que um dia – mais cedo ou mais tarde – seremos enganados.

Afortunados os casais que desfrutam da chance de se explicar antes da execução amorosa. Que podem desfazer equívocos e se defender da inveja dos terceiros. Amor nunca será uma única versão. Isso é obsessão.

Abraços com toda ternura,
Fabrício Carpinejar







Querida Marlene,

Já diria o sábio dito popular: mula não se encosta em vaca. Ou, em palavras mais bonitas e palatáveis, procuramos nossos iguais, ficamos juntos pelas afinidades, mesmo que pareçam secretas. Você contou em sua carta sobre como este seria o primeiro Dia dos Namorados de sua vida, conteve-se e comprou um cartão singelo. Alguma coisa em você avisou que não eram tão namorados assim, não é mesmo? Os pequenos alertas são toda nossa intuição. É preciso ligar-se aos instintos no amor. Quem vem com a razão para o relacionamento, está com as mãos ocupadas de si mesmo. Ocupado demais para dar-se ao outro.

Marlene, percebo que você imediatamente ficou se sentindo culpada, colocou-se no centro do que aconteceu. É a síndrome que chamarei de “mulher-barata”: ao primeiro sinal de imprevisto no casal, corre e se esconde, achando que é a mais desprezível das fêmeas, a mais problemática entre todas, aquela que tem o maior mistério abominável que nem ela mesma sabe qual é. Não importa o xingamento: é o mais terrível, o mais nojento... É o “mais-mais”, um tipo de especialização para baixo, uma distinção do horror, mas, ainda assim, uma distinção. Por isso você se sente tão mal.

Não fica apenas triste por ter estado com o “moço-barata” e ele ter partido ao primeiro sinal de cobrança: transforma a simples perda na “Maldição de Marlene”, aquela que nunca teve Dia dos Namorados, seu Halloween particular.

Como é que se faz? Primeiro, você precisa desenvolver a coragem de amar. Aí, garanto, “homens-barata” passam longe de lobas, leoas e ursas.

Beijos meus,
Cínthya Verri

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 1º/07/2012 Edição N° 17117

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