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sábado, 21 de julho de 2012

À la Yoki

EPITÁFIO
No voo noturno todos
Os gatos são pardos






O envio de malas no avião está cada vez mais assustador. Quando a bagagem é maiorzinha, não tem saída. A moça com voz forçosamente gentil avisará que será necessário despachar. Pode tentar levar junto, mas não tem jeito.

O massacre é certo: os pertences chegarão azucrinados, detonados; o zíper pousará desdentado; as rodinhas, aleijadas. Não há container que resista aos carregadores.

E o Bitols viaja muito, muito. Ano passado calculamos mais de 300 palestras. Ainda por cima, é difícil para ele ser econômico nas roupas: não sabe que estilo vai fazer. Punk-rock-lírico, provavelmente. Com adereços diversos.

Tem a questão das fotos, das filmagens. O figurino precisa variar. Se a valise é larga, o homem empilha cacarecos até abarrotar.

A solução seria uma malinha mais contida. Algo que, mesmo esturricado, pudesse passar entre as poltronas justíssimas da aeronave.

Aliás, quanto mede aquilo, por onde a gente se estreita entre as pessoas, que chamam corredor?

Algumas vezes, o muambeiro tentou levar a minha, claro. Catou minha bolsa grande de couro, socou tudo lá para dentro e já se ia passeando. Ei, que é isso? Onde tu pensa que vai com meu bolsão? Já puxei o seis e dei o para-te-quieto.

Passei semanas avisando: você precisa comprar a mala nova. E nada.  Coisa de homem, fingir que é leitão para mamar deitado. Não ia comprar para ele, mas de jeito nenhum.

Um dia, anunciou Bitols pelo telefone:

—    Achei! Comprei a mala nova!
—    Que ótimo!
—    Você vai amar, é uma graça!

Gelei a espinha. “Você vai amar” é o presságio do horror. Toda mulher sabe que qualquer anúncio é uma inversão.

Aparece finalmente com seu troféu: um quadradinho módico com alça e rodinhas. E com um gatinho na frente. Sim, a foto de um gatinho brincando com um novelinho. Juro. Vou explicar melhor: a tampa era a imagem de um filhote de felino branco com a patinha tocando numa bolinha de linhas de tricô!

Se tem mulher que passeia com o cachorrinho no parque, Bitols catou um equivalente aéreo.

E lá vai ele para suas intermináveis viagens com o bichinho de estimação a tiracolo. Ui, que ódio.

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