Carpinejar trolando na Flip - Quinta, 5/7/2012
Relatos de Fabrício Carpinejar diretamente da 10ª Flip, em Paraty
Fabrício Carpinejar
QUINTA, 5/7/2012
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(Foto: Cínthya Verri)
Depois de fazer a abertura, Luís Fernando Verissimo caminhava desobrigado na Festa Literária Internacional de Paraty, acompanhado de sua filha Mariana e de sua esposa Lúcia. Aliviado da obrigação de dar palestra, curtia merecidas férias literárias.
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Não tem como escritor usar salto alto em Paraty. As calçadas irregulares exigem humildade.
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(Foto: Cínthya Verri)
Lúcia Verissimo experimentou meus óculos da morte e assustou o espanhol Enrique Vila-Matas.
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(Foto: Cínthya Verri)
A primeira mesa da manhã foi alegremente mórbida. André de Leones, Carlos de Brito e Mello e Altair Martins fundaram um estranho e curioso clube da morte na literatura. Trocaram impressões sobre suicídio, exumações e cadáveres com desembaraço de brunch.
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André de Leones evocou sua adolescência em Silvânia, pequena cidade goiana. Confessou que vários de seus colegas do Ensino Médio se mataram. Enquanto os familiares perguntavam "Por que ele se matou?", ele se dizia "Por que não?"
Decidiu fazer romances apocalípticos para não pensar mais no assunto.
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Igualmente com bom humor, o mineiro Carlos de Brito e Mello apresentou a gênese de seu livro "Passagem tensa dos corpos", onde a família criava uma teia de fofocas sobre os vizinhos a partir do anúncio fúnebre no jornal ou feito pelo carro de som.
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(Foto: Cínthya Verri)
O gaúcho Altair Martins arrancou gargalhadas da plateia ao descrever os benefícios do Veja Multiuso. Carlos Moreno que se cuide. Altair já ganhou o título de Bombril de Paraty.
"Quando eu aperto o desinfetante, parece que ele segura minha mão de volta", brincou.
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Restaurante no festival pede paciência de Hare Krishna e alguns incensos. Os pedidos ficam acumulados. Quando o garçom vem na mesa, traz o refrigerante, a comida, a sobremesa, o café e a conta ao mesmo tempo, para não perder a viagem.
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Uma das palestras mais aguardadas da Flip foi a do espanhol Enrique Vila-Matas, que lançou "Ar de Dylan" pela Cosac Naif. Arena lotada de tarde para assistir ao elegante narrador catalão, que dividiu o palco com o chileno Alejandro Zambra
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Enrique falou que excesso de técnica afasta a vida da literatura. Defendeu a beleza dos livros doentes e inacabados porque criam a solidariedade do erro.
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(Foto: Cínthya Verri)
Uma de suas glórias é ter sido convidado para o Congresso Internacional sobre Fracasso na Suíça. Declinou do convite para não parecer arrogante.
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Alejandro ajudou o mediador Paulo Roberto Pires a elaborar perguntas em espanhol para Enrique Vila-Matas. Tornou-se uma das sensações entre os fãs e leitores pela simplicidade e despojamento. Leu inclusive trechos do seu livro "Bonsai" em português. Arriscou-se com paciência no jogo de soletração.
Sua tese era de que a obra publicada deveria ser "resumo do rascunho".
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Infelizmente nenhuma sessão de autógrafos superou a fila por balões.
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