Arte de Cínthya Verri
“Ele era querido, educado, estávamos há três semanas. No Dia dos Namorados, não apareceu. Me senti uma barata nojenta esmagada. Mandei um SMS: ‘Aconteceu alguma coisa?’. Ele ironicamente perguntou se eu queria discutir por SMS. Pensei: ‘Isso é uma ameaça?’. E acabei com ele. A poeira baixou, liguei e perguntei: ‘Acabou?’. Ele: ‘Sim’. Fiquei arrasada. Preciso MUITO de vocês.
Beijo, Marlene”
Querida Marlene,
Nem todos os homens são iguais, alguns são piores do que os outros. Analise comigo, você sequer concedeu o direito de resposta a ele no momento do desentendimento. Já se consagrou injustiçada, vítima do descaso.
Não cobrou uma posição porque ele não apareceu, condenou a atitude por torpedo. O namoro ainda não havia completado um mês. Não se conheciam de todo e dependiam de maior paciência para ajustar a convivência e harmonizar as personalidades.
Ele tinha razão: não era caso de discutir por SMS. Talvez precisasse de tempo para argumentar e detalhar os impedimentos. Afinal, os olhos são uma boca mais honesta. Mas não admitiu desculpa, descartou sumariamente, como se fosse uma mentira. Perante a pressão desmedida, é evidente que ele se fechou, achando que era excessivamente ansiosa e temperamental. A poeira não vai baixar, pois jogou toda terra nos olhos dele.
Dia dos Namorados não é o mesmo que abandoná-la no altar, porém a sensação é que entendeu assim. Não faz sentido dizer que foi uma barata nojenta. Seu drama excessivo eliminou o discernimento. Será que não despejou nele as frustrações de antigos namoros?
Somos superficiais para terminar. Qualquer fofoca ou suspeita, e transbordamos de arrogância. O fofoqueiro é o cupido do divórcio e se aproveita de nossa paranoia amorosa. Crescemos com a certeza de que um dia – mais cedo ou mais tarde – seremos enganados.
Afortunados os casais que desfrutam da chance de se explicar antes da execução amorosa. Que podem desfazer equívocos e se defender da inveja dos terceiros. Amor nunca será uma única versão. Isso é obsessão.
Abraços com toda ternura,
Fabrício Carpinejar
Querida Marlene,
Já diria o sábio dito popular: mula não se encosta em vaca. Ou, em palavras mais bonitas e palatáveis, procuramos nossos iguais, ficamos juntos pelas afinidades, mesmo que pareçam secretas. Você contou em sua carta sobre como este seria o primeiro Dia dos Namorados de sua vida, conteve-se e comprou um cartão singelo. Alguma coisa em você avisou que não eram tão namorados assim, não é mesmo? Os pequenos alertas são toda nossa intuição. É preciso ligar-se aos instintos no amor. Quem vem com a razão para o relacionamento, está com as mãos ocupadas de si mesmo. Ocupado demais para dar-se ao outro.
Marlene, percebo que você imediatamente ficou se sentindo culpada, colocou-se no centro do que aconteceu. É a síndrome que chamarei de “mulher-barata”: ao primeiro sinal de imprevisto no casal, corre e se esconde, achando que é a mais desprezível das fêmeas, a mais problemática entre todas, aquela que tem o maior mistério abominável que nem ela mesma sabe qual é. Não importa o xingamento: é o mais terrível, o mais nojento... É o “mais-mais”, um tipo de especialização para baixo, uma distinção do horror, mas, ainda assim, uma distinção. Por isso você se sente tão mal.
Não fica apenas triste por ter estado com o “moço-barata” e ele ter partido ao primeiro sinal de cobrança: transforma a simples perda na “Maldição de Marlene”, aquela que nunca teve Dia dos Namorados, seu Halloween particular.
Como é que se faz? Primeiro, você precisa desenvolver a coragem de amar. Aí, garanto, “homens-barata” passam longe de lobas, leoas e ursas.
Beijos meus,
Cínthya Verri
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, Caderno Donna, p. 6
Porto Alegre (RS), 1º/07/2012 Edição N° 17117
Preservamos a identidade do remetente com nome fictício.
Nossos palpites amorosos não substituem consulta, terapia, exorcismo e qualquer tratamento técnico.
ESCREVA PARA colunaquaseperfeito@gmail.com
Porto Alegre (RS), 1º/07/2012 Edição N° 17117
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