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terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Trocadilhos


Viciada em trocadilhos
Vícios Vários
Como o de auto-expor-me a mim
Em prosa poética que é a linguagem da vida
Com voz que falseteia mas não desafina
E perna que costura na parede de rocha da montanha
(Que deixei de escalar)

Com Corpo que se mergulha
No rio límipido Tapajós
E nunca marajoara
No rio sujo do Tacacá
Que cura porres na amazônia
Floresta onde pari a mim e ao meu país
De bananas vermelhas e folhas largas
Onde cantei ao povo de mim
Tão desafinada e caótica que sou

(realmente sou)

Ainda assim sou amada
E mesmo fora da forma que sonharam
E mesmo com os sete furos auriculares
Buracos no umbigo e na sobrancelha
Buracos onde orbitam meus olhos
Onde orbita minha língua cáustica
Buracos de onde vertem meus sonhos
Buracos onde penetram poesia e lirismo
Buracos
Toda esburacada que sou
Asfalto de cobertura barata
Lenhado de chuva e vento
E caminhões desgovernados de metilfenidato
Pedra lenhada de mar
De meu surfar tão desengonçado
Os pés que bato desordenadamente
E o prazer de brincar
E também o mar me ama
E aos músculos que pouco me sustentam

Mas eis que a cada dia mais me sustento
Na medida em que os esforço a sustentar-me
Cada vez chego mais longe
E me alongo
A cada dia um milímetro mais
Mais longe e mais perto de mim
Mais me expando ao mundo
Mais o mundo se expande
Num bailar de acasalamento
Entre eu e o amor do mundo
Que me aceita bem mais do que esperava

Quanto mais desisto agradar
Quanto mais me alongo adentro em mim
E me mareio
Mais o mundo se abre e se arreganha a me receber
Mais amor dou sem fronteiras
Sem pré-aquecimento do forno
Mais cresce a massa
A massa oca e esburacada que sou
Mais contém (em suas trabéculas esgarçadas de vida)
Mais as fraturo, mais se reforçam
Mais a vida venta em mim
Mais sopro de mim ao vento
E ele me leva


Aos longínquos desertos pessoais de quem me encontra
E me recebe
E me emociona a cada janela aberta que encontro
A cada um que abre suas persianas e seus vidros
Mais me encho de vida
Quanto mais vida sou e dou
Quanto mais espontânea fico
Ao vaguear por entre meus bosques
Também eles esburacados
De clareiras abertas a facão
De onde vejo a lua cheia
Ou minguante ou crescente
Ou não a vejo quando não está
Em eclipse
Vejo a escuridão e o vazio
Transbordando de possibilidades
As possibilidades que sou
Todos os dias
Todas as noites
Desenluaradas
Desestreladas
No escuro fundo de mim
Viro o bicho intuitivo
Que escapa ao tsunami do mundo
Quando a ânsia de viver me bóia
No esgoto de ganância financeira
Bóio
E broto
Adubada do podre que esqueceu de desaparecer
Vergo
E cresço de meus excrementos
E afloro
Floresço enfim
Num querer bruto e apaixonado
Enraivecido e colérico
E a facão
Rasgo as clareiras do mundo que se fecha sobre mim
De novo e de novo e de novo

Pela infinitésima vez

Lá vou
A facão
Abrindo clareiras e buracos pra ver a lua e o sol
E o céu e o mar de brincar
De amar

Paro um segundo e contemplo
A seguir novo passo
Cada um mais desequilibrado
Para reagrupar o equilíbrio ao mover-me
Porque é o movimento que me sustenta
E não o contrário
É ao mover-me que me equilibro
E isso aprendi em tenra idade
E nunca mais esqueci
Embora em registro extra-piramidal
Torno a recordar-me se me faço consciente
Do passo
Do abraço
E do dirigir(me)
Câmbio analógico da vida
Que reduz a velocidade quando a vejo
Que fica lenta
Lentíssima
O número de batidas que vai determinar o compasso
Não é o mesmo número de notas que ouço
Pauta, Clave, Notas, Valores, Figuras, Ligadura
Ponto de Aumento
Acento Métrico, Síncope e Contratempo
Aprendizado da mínima
Aprendizagem contínua
Aprendizagem ao máximo
Trocadura ínfima
Trocas duras íntimas
Faço disso meu viver
O viciadiço de viver
O vício ardiço e caniço
De pesca e caça
De mim

Onde for
Qualquer lugar, tempo, espaço, rio
Cascatas doces e amargas
Gélidas e trôpegas cascatas
Aos tropeções nos buracos das pedras
Nos buracos das agulhas
Onde passam camelos
Onde todos adentram o reino celeste
Onde cada um atinge seu paraíso
Onde sou deusa
Onde sou a deusa Lilith
Geradora de meu universo
Extremamente ocupada em mamar-me
Em fertilizar-me de nu e cru
Em amar ao revés
Onde descuido e cuido de mim
Mais parece o mundo engolir-me
E gozar-me.

Ouço o Cartola
Disfarço e choro
Indisfarçadamente
Meu pranto sempre tem hora




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